Esperamos tanto, merecemos essa catarse, disse o engenheiro Thiago Varella, 38 anos. O governo espera que 46 milhões de pessoas participem das festividades que começam sexta-feira e vão até 22 de fevereiro.

Trajes brilhantes e extravagantes estão mais uma vez sendo preparados. O samba tocará até o amanhecer nos lotados recintos de desfiles do Rio de Janeiro. Centenas de festas barulhentas e itinerantes inundarão as ruas. E as comunidades da classe trabalhadora serão impulsionadas, emocional e economicamente, pela renovada folia.

A pandemia de COVID-19 no ano passado levou o Rio a adiar o Carnaval em dois meses e diluiu parte da diversão, que contou com a presença principalmente de moradores locais. Este ano, o governo federal do Brasil espera que 46 milhões de pessoas participem das festividades que começam oficialmente na sexta-feira e vão até 22 de fevereiro. Isso inclui visitantes de cidades que fazem do Carnaval uma festa mundialmente famosa, especialmente o Rio, mas também Salvador, Recife e a região metropolitana de São Paulo. , que emergiu recentemente como um hotspot.

Essas cidades já começaram a fazer festas de rua.

Esperamos tanto tempo que merecemos essa catarse”, disse Thiago Varella, engenheiro de 38 anos, vestindo uma camisa havaiana encharcada pela chuva, em uma festa em São Paulo, no dia 10 de fevereiro.

A maioria dos turistas está ansiosa para ir às festas de rua, conhecidas como blocos. O Rio permitiu mais de 600 deles, e há mais blocos não sancionados. Os maiores blocos atraem milhões de pessoas às ruas, incluindo um bloco que toca músicas dos Beatles em ritmo carnavalesco para uma multidão de centenas de milhares. Esses grandes blocos foram cancelados no ano passado.

Queremos ver a festa, as cores, as pessoas e nós mesmos curtindo o Carnaval”, disse a turista chilena Sofia Umaña, 28 anos, perto da praia de Copacabana.

O espetáculo principal acontece no Sambódromo. As principais escolas de samba, localizadas nos bairros mais populares do Rio, gastam milhões em desfiles de uma hora com carros alegóricos e fantasias elaboradas, disse Jorge Perlingeiro, presidente da liga carioca de escolas de samba.

O que é bom e bonito custa muito; Os materiais de carnaval são caros”, disse Perlingeiro em entrevista em seu escritório ao lado dos armazéns das escolas de samba. “É uma festa tão importante… É uma festa de cultura, de alegria, de diversão, de lazer e, principalmente, do seu lado comercial e social.

Ele acrescentou que o Carnaval deste ano vai quebrar recordes no Sambódromo, onde cerca de 100 mil funcionários e espectadores são esperados todos os dias no local lotado, além de 18 mil desfilantes. Embora não se espere que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja entre eles, sua esposa Rosângela da Silva disse que estará no desfile.

A presença da primeira-dama sinaliza uma mudança na administração do ex-presidente Jair Bolsonaro, que manteve distância do principal evento cultural do país.

Quase 700.000 brasileiros morreram na pandemia, o segundo maior total nacional do mundo, depois dos EUA, e muitos culparam a resposta de Bolsonaro, enfraquecendo a sua candidatura à reeleição, que acabou por perder. Muitos nas festas de rua deste ano comemoram não apenas o retorno do Carnaval, mas também a derrota de Bolsonaro.

Esse foi o caso da festa de rua Céu na Terra, no boêmio bairro de Santa Teresa, no Rio, em 11 de fevereiro. Músicos tocavam seus tambores enquanto alguns foliões escalavam as cercas para assistir a cena de cima da multidão pulsante. Anilson Costa, que anda sobre pernas de pau, já tinha uma vista privilegiada de seu poleiro elevado. Coberto de flores e pompons de cores vivas, ele derramou um regador com a inscrição “AMOR” sobre as pessoas que dançavam abaixo dele.

Ver essa torcida hoje é um sonho, é muito mágico”, disse Costa. Este é o Carnaval pós-pandemia, o Carnaval da democracia, o Carnaval do renascimento.

Este ano compartilha um pouco do espírito da edição de 1919, que aconteceu logo depois que a gripe espanhola matou dezenas de milhares de brasileiros, mas não era mais uma ameaça significativa. A Primeira Guerra Mundial também tinha acabado e as pessoas estavam ansiosas para desabafar, disse David Butter, autor de um livro sobre a celebração daquele ano.

Havia tanta gente no centro do Rio para o Carnaval que toda a região ficou sem água em poucas horas”, disse Butter.

O cancelamento do Carnaval em 2021 e a sua versão discreta no ano passado atingiram uma indústria que é uma fonte de empregos durante quase um ano para carpinteiros, soldadores, escultores, eletricistas, dançarinos, coreógrafos e todos os outros envolvidos em trazer desfiles ao público. Como tal, o pleno regresso do Carnaval é um estímulo para as economias locais.

Ontem fui dormir às 3 da manhã. Hoje vou sair mais cedo porque perdi a voz”, disse a costureira Luciene Moreira, 60 anos, enquanto costurava uma fantasia amarela no armazém da escola de samba Salgueiro. “Você tem que dormir mais tarde num dia, mais cedo no outro; caso contrário, o corpo não aguentará. Mas é muito prazeroso!

O Rio espera cerca de 5 bilhões de reais (cerca de US$ 1 bilhão) em receitas em seus bares, hotéis e restaurantes, disse o presidente da agência de turismo da cidade, Ronnie Costa, à AP. Os hotéis do Rio estão com 85% da capacidade, de acordo com a associação hoteleira do Brasil, que espera que as ofertas de última hora elevem esse número ao máximo. As pequenas empresas também estão se beneficiando.

O Carnaval é lindo, as pessoas estão comprando, graças a Deus todos os meus funcionários estão com os salários em dia”, disse Jorge Francisco, que vende acessórios de Carnaval com lantejoulas e brilhos em sua loja no Centro do Rio. “Para mim é uma alegria imensa, todo mundo sorrindo e querendo. Carnaval é assim.